De acordo com o conselho consultivo independente sobre migração, quase 21.000 menores ucranianos nos Países Baixos precisam de se deslocar frequentemente entre abrigos, onde espaços especiais destinados a eles costumam estar fechados. Crianças e adolescentes entre os 4 e os 18 anos carecem de estabilidade e segurança, enquanto muitos jovens adultos são efetivamente excluídos do ensino superior por precisarem de pagar mensalidades muito mais altas do que os estudantes neerlandeses e estarem impedidos de receber bolsas de estudo.

“A incerteza prolongada sobre o seu estatuto de residência e as preocupações com os familiares deixados para trás causam ansiedade e depressão”, escreveu o Conselho Consultivo sobre Migração na semana passada. “Atendimentos específicos e culturalmente sensíveis para estes jovens são escassos e problemas psicológicos nem sempre são reconhecidos a tempo.”

Maarten Dekker, consultor político do Centro de Apoio Psicossocial para Ucranianos Deslocados (Loket Ontheemden Oekraïne Psychosociale hulp, LOOP), afirmou que há cada vez mais sinais de que a situação dos jovens ucranianos está a se deteriorar. "Eles estão numa crise de identidade porque não se sentem mais em suas casas na Ucrânia, mas também não conseguem desenvolver uma ligação nos Países Baixos", disse Dekker à NOS.

Em abrigos, as crianças sentem falta de privacidade e apoio social. Os pais muitas vezes não conseguem ajudar porque também vivem em incerteza prolongada.

A VluchtelingenWerk Nederland comemorou a esperada extensão da proteção. "Mas isso não oferece uma perspetiva de longo prazo. Isso causa incerteza neste grupo", disse a porta-voz Lolkje de Vries. Entre os ucranianos de 17 a 23 anos, 80% não estão matriculados em nenhum programa educacional, dificultando o seguimento do seu bem-estar.

Anna Bieliaieva, que mora há três anos com o seu filho de 7 anos num abrigo municipal em Utrecht, disse à NOS que os problemas são generalizados. Ela organiza atividades para adolescentes ucranianos no Vital'ya, um espaço comunitário cujo nome significa "sala de estar" em ucraniano. "Os pais deles não têm condições de pagar o ensino superior", disse ela. Embora Bieliaieva seja grata pelo abrigo, "é um lugar seguro, nada como a guerra na Ucrânia", ela enfatizou que ainda falta estabilidade. "Espero que um dia tenhamos estabilidade."

O Conselho Consultivo para a Migração instou o governo a garantir que crianças e jovens ucranianos possam permanecer em locais seguros e tranquilos, tenham alguém a quem recorrer para tirar dúvidas e resolver problemas e recebam ajuda para aprender o idioma. O conselho também afirmou que universidades e faculdades não devem cobrar mensalidades mais altas do que as cobradas a estudantes neerlandeses.

Na próxima terça-feira, os ministros da UE devem aprovar formalmente a extensão da Diretiva de Proteção Temporária até 4 de março de 2027. Segundo essa diretiva, os ucranianos deslocados têm acesso a assistência médica, habitação e educação e podem trabalhar no país sem que os empregadores precisem de uma autorização de trabalho.

O Conselho Consultivo sobre Migração é um órgão consultivo independente que fornece ao governo e ao parlamento neerlandeses recomendações sobre leis e políticas de migração, tanto a pedido deles quanto por iniciativa própria.

Imagem Portugueses na Holanda