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Um grupo de manifestantes pró-palestina montou um acampamento de protesto na Roeterseiland, em pleno Campus da Universidade de Amsterdam (UvA), na segunda-feira.
Os manifestantes apelaram à UvA, à Vrije Universiteit (VU) e à Amsterdam University College (AUC) para cortarem laços com instituições académicas em Israel.
Muitas das dezenas de manifestantes no local usaram algo para cobrir o rosto. Não eram necessariamente estudantes de nenhuma das três universidades de investigação da capital. "Não precisa ser estudante - todos são bem-vindos na nossa universidade libertada!" escreveram os manifestantes num comunicado nas redes sociais.
A Universidade de Amsterdam disse à agência de notícias ANP que considerava a possibilidade de apresentar queixa contra os manifestantes. A instituição de ensino esperava apenas saber, com certeza, se os manifestantes planeavam passar a noite nas dependências da propriedade da UvA. Enquanto os manifestantes barricavam duas pequenas pontes que levavam ao acampamento, as pessoas ainda puderam caminhar pelo Campus Roeterseiland.
“Vamos ocupar e manter a linha contra qualquer tentativa de despejo. Precisamos de mobilização em massa e de muito apoio!” escreveram os manifestantes. “Não ficaremos aqui acampados só por dois dias ou isso”, disse um organizador à ANP.
“Todos os estudantes, funcionários e humanos estão convidados a juntar-se a nós agora, enquanto mostramos à UvA, VU e AUC que não há negócios quando um genocídio está em curso”, escreveu a Palestine Action Netherlands num comunicado. Eles emitiram um ultimato exigindo que as três universidades divulgassem totalmente as suas relações académicas em Israel e os laços com as empresas que operam nesse país.
Eles também querem que a UvA, VU e AUC cortem relações com instituições israelitas que possam estar ligadas aos colonatos israelitas ou à violência nos territórios palestinianos. Os manifestantes também exigiram que as universidades retirem os apoios financeiros a empresas israelitas e multinacionais que lucram direta ou indiretamente com a agressão na região.
Outro grupo, a Free Palestine da UA, também indicou que a Universidade de Amsterdam trabalha com a Universidade Ben-Gurion, a Universidade Hebraica de Jerusalém e a Universidade de Tel Aviv. Alegou que essas três instituições israelitas trabalham com a empresa de construção do governo israelita, Elbit Systems. Criticou também a Vrije Universiteit pela sua ligação ao vasto Programa Horizonte 2020 da União Europeia, que é responsável pela distribuição de 95 mil milhões de euros em bolsas de investigação em toda a UE sobre uma ampla variedade de assuntos. O Programa Horizonte 2020 também supostamente financiou projetos da Elbit Systems.
Ambas as organizações estiveram representadas na manifestação. Os manifestantes disseram que estavam “a ocupar este Campus em solidariedade com o povo da Palestina” e expressaram admiração por protestos universitários semelhantes nos Estados Unidos desde abril, que também já se estenderam a outros países europeus.
Violência Irrompe
Ao inicio da noite, cerca de dez homens procuraram um confronto com os manifestantes no protesto da UvA. Os homens surgiram do nada e começaram a agredir os manifestantes, lançando fogos de artifício e outros engenhos pirotécnicos contra eles.
Segundo um repórter presente no local, os motivos do grupo, muito agressivo, não foram claros. Um deles usava um capacete integral e os rostos dos demais eram visíveis. Após cerca de dez minutos, os homens foram expulsos da área pelos manifestantes.
Já fora da área ocupada, pessoas com demonstrações de apoio a Israel, como a bandeira do país, também procuraram o confronto com os manifestantes. Imagens nas redes sociais mostraram alguns deles a ser também agredidos.
"A polícia está a investigar os incidentes", disse um porta-voz. Ninguém foi ainda detido. Foi dito que o grupo "entrou furtivamente" durante a ocupação. Não há registo de feridos no primeiro incidente.
Não muito depois, a burgomestre de Amsterdam, Femke Halsema, também compareceu ao protesto. Não se sabe o que levou à sua decisão. Ela não entrou no local, mas ficou numa das entradas barricadas pelos manifestantes.
As autoridades apelaram para se manterem afastadas do protesto pró-Palestina no Campus de Roeterseiland, o que pareceu ter tido o efeito contrário e atrair ainda mais apoiantes, contra-manifestantes e espetadores. Alguns dos manifestantes deixaram a área barricada por volta das 22h30.
A polícia informou igualmente que se mantiveram em contacto com os manifestantes, alguns dos quais montaram tendas e abrigos para passar a noite. Um porta-voz da universidade disse que devido ao tamanho do protesto, o município estava em negociação com os manifestantes. O porta-voz repetiu que a universidade não queria que os manifestantes nos seus terrenos durante a noite.
Algumas centenas de pessoas estiveram presentes no protesto pró-Palestina e dezenas de funcionários universitários também aderiram à manifestação.
Intervenção Da Polícia
A universidade publicou um comunicado a descrever as suas atividades em Israel, conforme exigido pelos manifestantes. A UvA disse que opera intercâmbios de estudantes com a Universidade de Tel Aviv, a Universidade Hebraica de Jerusalém e a Universidade Ben Gurion, mas nenhum intercâmbio está a ocorrer atualmente devido ao desaconselho de viagens para Israel.
Além disso, revelou a universidade, trabalham em oito projetos de investigação europeus que envolvem investigadores ou empresas israelitas.
O ministro da Educação, Robbert Dijkgraaf, emitiu um breve comunicado na manhã de terça-feira, dizendo que lamentava o fato de a polícia ter sido forçada a intervir.
Era já madrugada quando o Corpo de Intervenção da polícia foi convocado para terminar a manifestação de ativistas pró-Palestina, tendo detido 125 pessoas que se recusaram a deixar o local.
Num eco de protestos semelhantes aos dos EUA e Reino Unido, a polícia, o Ministério Público e a Câmara Municipal decidiram desmantelar o acampamento depois da universidade ter pedido várias vezes aos manifestantes que se retirassem.
Segundo a emissora NOS, a polícia começou a atuar por volta das 3h, tendo atuado até às 4h30. A polícia usou inclusive uma retro-escavadora para destruir as barricadas erguidas pelos manifestantes com paletes, bicicletas e outros objetos.
Imagem de Politie Amsterdam